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Cláudio Magrão  - Secretário Geral da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo

e Vice-Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região

É preciso enfrentar a realidade!

O mundo de trabalho tem sofrido profundas mudanças nos últimos tempos. Novas e novas formas de relações entre patrões empregados têm surgido e se colocado de forma quase que irreversível em um mercado que vive em permanente mutação. Tecnologia, força de trabalho não especializada, individualização, concorrência e uma dinâmica insana de consumismo têm engolido cada vez mais a noção de grupo, coletividade ou solidariedade em uma estrutura social baseada no “salve-se quem puder”.

Difícil imaginar até que ponto o próprio sistema irá suportar esse mecanismo que cada vez mais exclui as pessoas daquilo que ele mais precisa: trabalho; renda e consumo. Existe uma enorme contradição nisso tudo. A concentração de riqueza na mão de poucos é cada vez maior, enquanto a gigante maioria da população mundial está cada vez mais empobrecida. Em países como o Brasil essa realidade é ainda mais perceptível e selvagem.

Pois bem, o que se há de fazer? Certamente muita coisa! E cabe à sociedade civil organizada em suas instituições esse papel de reorganização das coisas. Cabe a cada um de nós buscarmos propor novos modelos mais civilizados e inclusivos que procurem retomar valores de direitos fundamentais de fato: trabalho decente com bons salários; distribuição de renda e oportunidades para todos. Não é mais possível acharmos “normal” que o mercado dê as cartas em um jogo cada vez mais desigual.

Neste sentido, cabe aos sindicatos, em particular, assumirem novamente o papel de protagonistas na reconstrução de uma consciência de classe e de unidade entre os trabalhadores. O tempo é agora. Desde sempre vivemos em uma sociedade baseada no trabalho e, portanto, organizar e fazer com que os trabalhadores sejam aqueles que se beneficiem da riqueza que produzem é nossa obrigação. Pensarmos e propormos alternativas já é um ótimo começo para buscarmos mudanças positivas.

Por uma política nacional de valorização da Indústria

Nos últimos anos o Brasil vem passando por um forte processo de desindustrialização e, consequentemente, pelo fechamento de milhares de postos de trabalho de maior qualificação profissional e salários melhores.

Os fatores vão desde a ausência de políticas industriais para o país, passando pelo avanço tecnológico, até a concorrência internacional desleal em termos de custo. Além do desemprego e a degradação da massa salarial, a alternativa mais fácil e nociva que empresários e governos têm encontrado, infelizmente, é a precarização do trabalho e o consequente empobrecimento da classe trabalhadora. Naturalmente, empobrecer uma classe social majoritária significa empobrecer a economia de um país como um todo.

Portanto, nada mais óbvio do que incentivarmos e apoiarmos o atual governo para a criação de políticas que façam ampliar e consolidar cada vez mais nosso parque industrial. Este, além de forte gerador de empregos, é a atividade econômica direta que mais agrega valores, que consolida mercados e que, sem dúvida, distribui renda para que tenhamos um mercado interno mais forte, distributivo e competitivo.

Precisamos urgentemente revalorizar nossas indústrias para que agreguem maior valor em todos os sentidos mas, principalmente, no sentido social, aumentando a oferta de empregos, a massa salarial dos trabalhadores e uma distribuição de renda mais equitativa para que, novamente, o país possa voltar a um círculo virtuoso em sua economia.

Nossa Luta é Garantir Direitos!

A Convenção Coletiva de Trabalho da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo é, sem dúvida, sua maior contribuição para a categoria em toda a sua História. Por mais de quarenta anos ela vem sendo construída nas negociações de Campanha Salarial e garantindo a todos os metalúrgicos do Estado de São Paulo muito mais do que aumentos ou reajustes salariais.
Particularmente neste momento político que o país vem passando de ataques e retirada de direitos constantes dos trabalhadores por parte do governo, a Convenção Coletiva de Trabalho é o instrumento fundamental que devemos proteger, manter e buscar avançar em nossa Campanha também neste ano de 2020. É ela que, muito além da Legislação Trabalhista brasileira que, dia a dia, tem sido destruída, poderá manter benefícios e garantias que vieram diretamente das necessidades gerais e específicas dos trabalhadores metalúrgicos.
Portanto, este deve ser o foco em mais esta Campanha Salarial.  Em um ano de extremas dificuldades econômicas, sociais e políticas principalmente para aqueles que constroem a riqueza do país, lutarmos para garantir os benefícios de nossa Convenção Coletiva de Trabalho certamente será a principal vitória para os trabalhadores e seus sindicatos.

Recuperação Econômica?

Temos ouvido pela mídia que a situação econômica do país vem melhorando e que a economia está dando sinais de recuperação, inclusive com a diminuição do número de desempregados no Brasil. É preciso ter muito cuidado com qualquer tipo de índice otimista neste momento. Particularmente no que se refere ao mundo do trabalho na indústria.

Em primeiro lugar, todos sabemos que em momentos de crise econômica, a primeira coisa a ser cortada pelas empresas são os postos de trabalho e que, em momentos de recuperação, a última questão a ser resolvida pelos empresários são novas contratações de trabalhadores. Esse quadro é recorrente através dos tempos, principalmente em um sistema econômico ultra liberal mantido pelo governo.

Em segundo lugar, é preciso avaliarmos que tipo de emprego vem sendo gerado na atual lógica do capitalismo. O desmonte dos direitos trabalhistas promovido pelo atual governo tem possibilitado ao setor patronal contratações que em hipótese alguma levam em consideração questões que vão desde salários decentes até questões de segurança e saúde no trabalho. Considerando tal ritmo de coisas, já podemos afirmar que vivemos um “salve-se quem puder” em termos de qualidade de vida para os trabalhadores brasileiros.

Com este quadro, só nos resta afirmar novamente que não existe saída individual para a classe trabalhadora ou para todos os que defendem uma sociedade mais justa.  O atual modelo está criando uma sociedade de excluídos que devem aceitar qualquer condição para garantir o pão de cada dia. 

Aos sindicatos e às entidades de representação social cabe, mais do que nunca, uma postura de resistência, de informação e de organização.  Nossa função nas fábricas ou quaisquer locais de trabalho deve continuar sendo o de denunciar a triste realidade vivida nos dias atuais e o futuro sombrio que o desmonte dos direitos trabalhistas trará para nossa sociedade. Por fim nos resta perguntar, será que a recuperação econômica vale qualquer custo social ? É justo que os mais pobres ou os que geram a riqueza desse país paguem a conta de todas as crises econômicas? Certamente que não!

Seu sindicato é o caminho!

Em meio a tantas discussões e mudanças no que diz respeito ao mundo do trabalho no Brasil nos últimos tempos, apenas uma coisa é certa: os trabalhadores e trabalhadoras têm sido vítimas constantes tanto dos patrões como do governo. A cada mudança nas leis trabalhistas, a cada alteração na legislação, temos assistido um verdadeiro desmonte nos direitos dos trabalhadores e, consequentemente, uma precarização cada vez maior nas condições de trabalho que vão desde a perda de renda até o desamparo legal.

O maior destes golpes é a própria Reforma da Previdência Social.  Com um modelo já bastante injusto anteriormente, a chamada Nova Previdência tratou de piorar as condições de aposentadoria para aqueles que sempre acabam pagando a conta: os trabalhadores do setor privado.  Mais uma vez, a penalização está sobre aqueles que mais trabalham, mais produzem e que ganham menos.

Por outro lado, propostas de flexibilização nos direitos trabalhistas, assim como a tal da “Carteira Verde e Amarela” , o próprio desmonte da Justiça do Trabalho e os duros golpes nos sindicatos colocam os trabalhadores em uma situação de difícil defesa. É claro, não podemos esquecer do grave quadro de desemprego e sub emprego existente no país e que fragiliza ainda mais as aspirações de uma vida mais digna e tranquila aos trabalhadores.

Diante desse quadro, precisamos insistir que os sindicatos continuam sendo a única alternativa de resistência para a classe trabalhadora. Se não nos dermos conta, rapidamente, de que apenas coletivamente teremos força para enfrentarmos aqueles que só visam lucros cada vez maiores, continuaremos a perder direitos cada vez mais até chegarmos ao ponto de termos de negociar com os patrões de forma individual e aí sabemos bem quem tem mais força. Participar, fortalecer, estar junto a seu sindicato é o caminho. Fora dele, cada trabalhador não passa de mais uma peça de reposição nas mãos do patrão e do governo.

Participação pelos nossos Direitos!

Estarmos juntos ao nosso sindicato é cada vez mais necessário. Essa é a única forma de protegermos nossos direitos que têm sido cada vez mais atacados pelo atual governo. Estamos em mais um momento de Campanha Salarial e a participação de todos nas assembleias e nas atividades do Sindicato é o que poderá garantir nossa Convenção Coletiva e nossos direitos como metalúrgicos, conquistados ao longo de muitos anos e muitas lutas.

O país passa por mais um momento delicado em sua economia e, novamente, patrões e governo unidos pedem que os trabalhadores paguem as contas. Não podemos mais aceitar essa situação de salários cada vez menores, de desemprego, de medo que sucessivos governos nos impõem para nos manter quietos e desorganizados. É hora de, definitivamente, estarmos unidos e garantirmos uma vida mais digna para todos nós.

Vamos fazer desta Campanha Salarial um momento de reação e de luta por melhorias em nosso presente e para o futuro. Se nos mantermos calados ou apenas reclamando seja lá do que for não chegaremos a lugar algum. Mas se nos mantermos juntos, através de nossos sindicatos, fábrica por fábrica e coletivamente, temos a possibilidade de avançarmos como trabalhadores e cidadãos. Do contrário, continuaremos perdendo nossos direitos e apenas dando lucro aos patrões. Não é hora de reclamar e sim de participar!

Somar ou dividir?

É natural que governos tenham de mudar ou reformar de tempos em tempos, estruturas políticas e econômicas que regulam a sociedade como um todo. No entanto, o que o atual governo vem fazendo não aponta em nada e em nenhum aspecto, que esteja em busca de melhorias para a maioria da população trabalhadora do país. 

Ao contrário, através de medidas que demonstram claramente uma lógica inversa que, ao nosso ver, serve apenas a elites que controlam o Mercado e nada mais, o governo não tem demonstrado nenhum avanço no que diz respeito ao bem estar da população.

É impossível acreditar, por exemplo, que a proposta apresentada pelo executivo e já vitoriosa pelo Legislativo, de uma Reforma da previdência Social possa vir a beneficiar qualquer trabalhador ou garantir o futuro das novas gerações. É impossível crer que mudanças na Legislação Trabalhista que retiram direitos conquistados durante décadas pelos sindicatos e trabalhadores irão proporcionar uma sociedade mais justa. É completamente fora de questão que o desmonte da seguridade social ou da educação pública, possa ser algo que vá favorecer aqueles que mais precisam.

Entre tantas impossibilidades e propostas nocivas, o atual governo que está no poder há apenas seis meses e já demonstrou claramente a serviço de quem veio. Destruir as estruturas da sociedade ou do Estado que possam garantir quaisquer meios de benefício social é o foco de banqueiros e detentores do grande capital e é apenas a estes que este governo está servindo.

O discurso governamental que polariza cada vez mais a sociedade não é à toa. Quanto mais divididos estivermos, menos teremos capacidade de reação.  Lavar as mãos ou apenas ficar atacando os que votaram neste governo não parece ser a saída. É preciso, mais do que nunca, buscarmos entender, esclarecer, somar muito mais do que dividir. Caso contrário corremos o sério risco de estarmos colaborando com a destruição de tudo o que conquistamos até hoje.

Os Sindicatos e o Caos da Política Brasileira

Estamos vivendo tempos de difíceis previsões ou planejamentos. Democraticamente, o atual governo chegou ao Poder prometendo um país melhor, o que é bastante natural em qualquer governo. No entanto, a realidade já se mostra bem distante da propaganda eleitoral e da urgência que o país precisa para voltar a crescer. Nunca um governo, de esquerda, centro ou direita,  se mostrou tão despreparado e inapto para lidar com nossos problemas.
É inegável que as soluções para as graves questões que estão colocadas não se resolveriam em apenas 5 meses de mandato. No entanto, o que mais exaspera todos os setores sociais é a absoluta falta de projetos e o flagrante despreparo em todas as áreas. A cada dia, novas trapalhadas se acumulam. Declarações irresponsáveis da presidência se contradizem o tempo inteiro com seus ministérios; enfrentamentos inúteis que vão desde a área internacional ao relacionamento com o Congresso Nacional, demonstram uma absoluta incapacidade de governar e assim vamos assistindo o país se atolar em mais uma crise de caráter institucional e, naturalmente, econômica.
Milhões de trabalhadores desempregados esperam por uma vaga no mercado de trabalho. Outros milhões já nem esperam mais e buscam sobreviver de qualquer maneira. Grandes empresas demitem a força de trabalho, não investem. Médias e pequenas empresas, que sempre foram as que mais empregaram no Brasil, fecham suas portas e a cada dia os dados sócio-econômicos  pioram. O setor financeiro é, sem dúvida, o único que demonstra crescimento. Mas devemos ter claro que nenhuma economia se sustenta apenas em cima de juros, sem que haja produção de nada.
Diante de tal realidade o que resta ao movimento sindical? O que pode fazer uma estrutura que vem sendo demolida com total intensidade pelo atual governo e, principalmente após a Reforma Trabalhista? 
Se existe algo de positivo nisso tudo é que diante do iminente caos sempre existe a possibilidade de coisas novas surgirem com mais força, organização e capacidade de atuação. É assim que devemos encarar nosso trabalho com os sindicatos e outras entidades de representação que legitimamente lutam pela manutenção e avanço de direitos.
Saberemos resistir e já estamos resistindo. Este não é o primeiro nem o último momento de crise pelo qual passamos ou passaremos. E, como sempre, será com novos projetos e novas estratégias que a estrutura sindical no Brasil sobreviverá. Sem esperar nada de governos, nosso futuro está e sempre esteve em nossas mãos.

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